A histórica maioria absoluta conseguida pelo conservador Partido Popular (PP) nas eleições da Andaluzia, região transfronteiriça com Portugal que durante décadas foi reduto dos socialistas, abriu o debate sobre como isso afetará a política nacional à medida que se aproximam as próximas eleições locais e gerais.
O PP viu esta segunda-feira a vitória do dia anterior na Andaluzia, onde pela primeira vez governarão com maioria absoluta, como um primeiro passo para recuperar o Governo em Espanha.
Entretanto, o Executivo presidido pelo socialista Pedro Sánchez continua a defender a sua força, apesar do claro retrocesso da esquerda nesta região do sul, a mais populosa do país, com cerca de oito milhões e meio de habitantes.
MAIORIA SEM A EXTREMA-DIREITA
O PP governava na Andaluzia com o apoio parlamentar dos liberais do Ciudadanos (Cs) e do Vox, de extrema-direita, mas o presidente regional, Juanma Moreno, decidiu convocar eleições antecipadas com argumentos como a dificuldade de aprovar um novo orçamento para aplicar as políticas necessárias para aliviar a escalada da inflação agravada pela guerra na Ucrânia.
Os conservadores conquistaram 58 assentos no domingo, pouco mais que o dobro dos 26 que tiveram em 2018, e uma maioria suficiente para governar sem os liberais.
Esses, por sua vez, perderam os 21 deputados que tinham e ficam de fora da cena política andaluza, em linha com o seu desastre em Espanha como um todo há meses.
Além dos liberais, o PP agora também poderá abrir mão do apoio da extrema-direita, que subiu ligeiramente, mais dois assentos, até 14, mas menos do que o esperado para ser importante para a formação do Governo.
Estas eleições também eram esperadas em parte para ver se o PP mantinha ou não a linha de pactuar com a extrema-direita, como aconteceu no início do ano na região de Castela e Leão, onde pela primeira vez em Espanha a extrema-direita passou a fazer parte de um Governo regional.
Moreno defende que a única maneira de "bloquear o Vox" é o "caminho pelo centro", para que os conservadores em Espanha, onde são a principal força de oposição no parlamento nacional, recuperem o terreno perdido desde a ascensão dos liberais e depois da extrema-direita.
"Se o PP andaluz é capaz de conseguir maioria absoluta, o PP em Espanha não tem um teto", afirmou o coordenador-geral do partido, Elías Bendodo, ressaltando que o grupo conservador está a dar um passo "decisivo" para no futuro derrotar Pedro Sánchez.
A vitória é vista pelos conservadores como um primeiro triunfo sobre Sánchez para o seu novo líder, Alberto Núñez Feijóo, que assumiu as rédeas do partido no último mês de abril, no meio de uma grave crise interna, e espera devolver o PP ao poder que teve em Espanha com José María Aznar de 1996 a 2004 e Mariano Rajoy entre 2011 e 2018.
RESULTADO MAU PARA A ESQUERDA
Sánchez lidera atualmente o partido socialista PSOE, que governa em Espanha em coligação com o Unidas Podemos (esquerda).
Agora na Andaluzia, o PSOE ficou com 30 assentos, menos três que nas eleições anteriores, o seu pior resultado histórico numa região que governou por quase 40 anos.
Já os outros dois partidos que também concorreram pela esquerda, Por Andalucía e Adelante Andalucía, dividiram sete assentos entre si, menos dez, depois de não concorrerem juntas sob uma única candidatura com o Podemos.
Sánchez tentou minimizar o desastre na Andaluzia, declarando que os socialistas não o veem como o início de uma mudança de ciclo em toda a Espanha, onde para o próximo ano estão marcadas eleições municipais e em várias regiões, antes das eleições gerais de novembro, se estas não forem antecipadas.
O porta-voz do Executivo socialista, Felipe Sicilia, negou que haja preocupação, já que as eleições nacionais ainda estão longe, e atribuiu o mau resultado a fatores como a divisão da esquerda.
No entanto, outras vozes proeminentes do partido socialista pediram uma reflexão profunda em vez de procurar desculpas, dado o que pode estar por vir nos próximos encontros com as urnas.