O Governo talibã indicou esta sexta-feira que a preocupação da ONU com o retrocesso dos direitos das mulheres, como a imposição da burca, é "infundada", e reafirmou o seu compromisso em garantir as suas liberdades "dentro do contexto religioso e cultural aceite pelos afegãos".
O Ministério dos Negócios Estrangeiros afegão responde assim, através de um comunicado, a uma declaração pactuada do Conselho de Segurança da ONU, que mostrava a sua "profunda preocupação pela crescente erosão do respeito dos direitos humanos e liberdades fundamentais das mulheres e raparigas" no Afeganistão.
Os quinze membros do Conselho de Segurança responsabilizaram na terça-feira os talibãs por este retrocesso e pediram-lhes para voltar atrás em todas as políticas restritivas com os direitos e liberdades básicas das afegãs, incluída a obrigação de usar a burca ou vestimentas similares em lugares públicos ou na televisão.
No entanto, os fundamentalistas enfatizaram esta sexta que o uso obrigatório da burca em espaços públicos "está de acordo com as práticas religiosas e culturais da sociedade" de maioria muçulmana.
O Governo talibã decretou a 7 de maio a obrigatoriedade para mulheres e raparigas de usar esta peça tradicional ou outras vestimentas similares que cubram completamente o seu rosto, apesar da maioria já o usar com assiduidade.
"Não se impôs ao povo afegão nada que vá contra as crenças religiosas e culturais da sociedade islâmica", defende o texto.
Mostrando-se "respeitosos com a liberdade religiosa" dos povos, o Governo talibã pediu ao resto dos países para respeitar os valores religiosos e culturais dos afegãos e "não emitir vereditos baseados em relatórios maliciosos e antagónicos de meios de comunicação" contrários ao seu Governo.
A declaração emitida pelo organismo da ONU também deixou entrever a possibilidade da restauração em breve do sistema bancário e financeiro afegão, permitindo ao Banco Central do Afeganistão usar os seus ativos para enfrentar a grave crise económica e humanitária que se vive no país asiático.
Uma hipótese que os talibãs receberam de bom grado, considerando-o "um passo vital para o povo afegão", e voltaram a exigir aos Estados Unidos a libertação dos fundos afegãos, assim como a retirada das sanções internacionais.
A chegada ao poder dos talibãs no passado 15 de agosto levou à suspensão dos fundos internacionais ao Afeganistão, assim como as ajudas procedentes da comunidade internacional, dos quais a sua economia dependia bastante.
O Governo talibã acusou várias vezes os Estados Unidos de "sequestrar" o seu dinheiro, agravando a crise afegã.