O democrata Joe Biden, de 78 anos, tomou posse como presidente dos Estados Unidos esta quarta-feira numa cerimónia solene na qual pediu união para que o país ultrapasse as diversas crises, e afirmou que "a democracia prevaleceu" após o mandato de Donald Trump.
Também foi empossada na cerimónia frente ao Capitólio a vice-presidente Kamala Harris, que fez história ao se tornar na primeira mulher, na primeira negra e na primeira pessoa de origem asiática a ocupar o cargo.
"UM DIA HISTÓRICO"
"É um dia histórico e de esperança, renovação e resolução", disse Biden no discurso, pouco após ter tomado posse como o 46º presidente dos EUA.
O juramento pôs fim aos turbulentos quatro anos de presidência de Trump, que se tornou no primeiro presidente cessante em 152 anos a não comparecer à posse do sucessor. Quando o democrata foi empossado, o republicano já estava na Flórida.
O primeiro discurso de Biden como presidente foi otimista, mas realista em relação aos desafios que o país enfrenta. Segundo o novo presidente, o país está imerso "numa frente unida de crises e desafios".
"SEM UNIÃO SÓ HÁ AMARGURA E FÚRIA"
"A união é o caminho a ser seguido", ressaltou Biden, ao declarar que sem ela "não há paz, apenas amargura e fúria".
O novo presidente pediu o fim do que definiu como uma "guerra não civil" entre democratas e republicanos, e prometeu trabalhar arduamente pelos seus eleitores e pelos que não o apoiaram nas eleições.
"Seremos julgados, eu e vocês, pela forma como lidamos com essa cascata de crises da nossa era. Estaremos à altura da ocasião? Seremos capazes de superar este momento estranho e difícil?" questionou.
Além disso, pediu "a defesa da verdade e a derrota das mentiras" depois de quatro anos de Donald Trump no poder, destacando que é preciso confrontar "o extremismo político, o supremacismo branco e o terrorismo doméstico".
"VAMOS REPARAR AS NOSSAS ALIANÇAS"
"Os Estados Unidos foram colocados à prova, e sairemos mais fortes. Vamos reparar as nossas alianças e envolvermos-mos novamente com o mundo, não para encarar os desafios de ontem, mas os de hoje e de amanhã", disse Biden.
Ao final dos mais de 20 minutos de discurso, Biden também se referiu ao feito histórico da posse de Kamala Harris como a primeira mulher vice-presidente do país: "Não me digam que as coisas não podem mudar", declarou.
Católico, Biden tomou posse sobre a mesma Bíblia que utilizou durante toda a carreira política. Este exemplar pertence à família do democrata desde 1893.
KAMALA FAZ HISTÓRIA
Pouco antes, Kamala também tomou posse acompanhada da juíza de ascendência porto-riquenha Sonia Sotomayor, a primeira magistrada latina do Supremo Tribunal federal.
A vice-presidente fez o juramento com a mão sobre duas Bíblias: uma delas pertenceu a uma amiga da sua família, Regina Shelton, e a outra ao falecido juiz Thurgood Marshall, o primeiro negro a integrar o Supremo Tribunal e uma das grandes referências de Kamala.
MÚSICA E POESIA
Na cerimónia, que começou com a queda de alguns flocos de neve, cantaram tanto Lady Gaga, que interpretou o hino dos EUA, como Jennifer Lopez, que cantou "This Land Is Your Land", composta por Woody Guthrie e que se tornou num hino nacional, patriótico e antifascista.
Ao terminar a atuação, 'J-Lo' recitou em espanhol um trecho do juramento de lealdade aos EUA: "Uma nação, sob Deus, indivisível, com liberdade e justiça para todos".
A última atuação foi de Amanda Gorman, uma poeta negra de 22 anos que se tornou na mais jovem a recitar um poema numa cerimónia de posse presidencial no país, comovendo o público ao dizer que o país entra numa "era de redenção".
"Sempre há luz, somos valentes o suficiente para vê-la. Somos valentes o suficiente para encarná-la", disse Gorman.
MENOS CONVIDADOS E MAIS SEGURANÇA
Apenas mil pessoas, bem menos que as 200 mil habituais, estiveram como convidadas na cerimónia, reduzida devido à pandemia de covid-19 e às ameaças de segurança após a invasão ao Capitólio no início do mês.
A maioria dos convidados eram congressistas americanos, mas também marcaram presença os ex-presidentes Barack Obama (2009-2017), George W. Bush (2001-2009) e Bill Clinton (1993-2001), acompanhados das respectivas esposas, Michelle Obama, Laura Bush e Hillary Clinton.
O agora ex-vice-presidente dos EUA, Mike Pence, também esteve na cerimónia com a esposa, Karen, e logo depois viajou para o estado de Indiana.
Sem público, a cerimónia contou com o maior esquema de segurança já visto numa posse presidencial no país, com 25.000 militares da Guarda Nacional, cinco vezez maior do que o número de militares no Iraque e no Afeganistão.
Para representar os americanos que, não fosse a pandemia, teriam ido a Washington para acompanhar a posse, os organizadores posicionaram 191.500 bandeiras de diferentes tamanhos e cores ao longo da esplanada.